Raquel Nascimento Pergunta:1.Aos 10 anos você iniciou sua carreira em um campinho de areia na cidade de Aguaí-SP,nos conte um pouco sobre seu início de carreira e porque escolheu a posição de goleira?

Eu jogo futebol desde que me conheço por gente… Morei pouco tempo em Aguai antes de me mudar pra Campinas, mas sempre passava férias na casa da minha tia, meus dias tinham destino certo: o campinho de areia no Celtra, centro esportivo da cidade de Aguai. Muitas vezes fui sozinha e fazia as amizades quando chegava lá…na maioria das vezes, eram todos meninos e que nem imaginavam que uma menina pudesse jogar futebol como eles. 

Sempre fui espoleta, não tinha medo de cair, me atirar no chão… Admirava a posição do goleiro e os malabarismos que eles faziam pra defender. Então desde sempre gostava de me arriscar no gol…e a brincadeira no campinho de areia ficava ainda mais divertida, porque a queda era mais fofa, não doía nada…rs Se deixasse, passa o dia inteiro no Celtra! 

Raquel Nascimento Pergunta:2.Vendo uma entrevista vi que sua família tentou uma outra carreira para você,Bailarina,como assim??Acho que você não gostou muito da ideia não né ? 

Quando eu tinha uns 7 anos, meu avo trabalhava numa academia, dando aulas de musculação. Eu vivia la com ele, éramos muito ligados. Como eu daca trabalho e ficava testando os aparelhos da academia sem permissão, eles decidiram me matricular numa das aulas oferecidas pela academia, o ballet. Mal sabiam eles que eu não levava jeito nenhum… faltava ritmo, delicadeza, paciência e flexibilidade…rs Teria sido melhor se tivessem me matriculado no Karatê. rs

Raquel Nascimento Pergunta:3.Aos 18 anos você se mudou para Orlando onde iria estudar e jogar,lá se formou em Coaching na UCF. Como foi sair tão jovem do Brasil,se adptar em outro país com uma cultura diferente da nossa?

Toda a minha carreira Juvenil foi no Guarani, onde joguei dos 12 aos 18 anos. Por causa do contato que tínhamos com as meninas mais velhas - que ja haviam passado pelo Guarani e naquela época estavam nos EUA - eu ja tinha esse sonho de ganhar uma bolsa de estudos nos Estados Unidos para jogar futebol sem precisar abrir mão dos estudos. Acho que por isso nunca fiquei receosa de me mudar pra lá aos 18 anos. Queria muito isso, embora tenha sofrido bastante com a saudades da família. Sou muito ligada à eles, e estar longe da família foi o desafio mais difícil. 

A minha adaptação na UCF foi tranquila. De cara ja gostei muito da cultura Americana. Lá na faculdade também havia outra Brasileira que já tinha jogado comigo nos tempos de Guarani, o que facilitou muito.  Também recebi muita ajuda dos americanos. Eles são um povo que guardo no coração com muito carinho. Tenho muito admiração por eles. Nunca mediram esforços pra me ajudar. 

Raquel Nascimento Pergunta:4.Já passou por algum tipo de preconceito por ser mulher e jogar futebol?Em quem se espelhou ou espelha como goleiro(a)?

Não conheci nenhuma menina no Brasil até hoje que não tenha sofrido preconceito. Na escola recebia apelidos desagradáveis, como mulher macho, pelo simples fato de amar e praticar o futebol. Ouvia que futebol era coisa pra homem, que eu deveria tentar outro esporte. Muitas vezes quando jogava contra os meninos, eles ficavam loucos quando perdiam pra mim, não aceitavam perder pra uma menina, como se aquilo fosse humilhação. Mas gaças a Deus que sempre recebi o apoio da minha familia, o que é o mais importante de tudo. 

Raquel Nascimento Pergunta:5.Adaptada,vivendo como professora e goleira em uma das maiores Universidades dos Estados Unidos você em 2016 deixou isso tudo para trás em busca de um sonho,jogar as Olimpíadas pela Seleção Brasileira.Como foi tomar essa decisão?Valeu a pena?

Foram 10 anos nos Estados Unidos. Tinha um futuro promissor por lá. Consegui fazer meu nome como atleta e depois como treinadora. Como goleira pela UCF, ganhei títulos, prêmios individuais e quebrei muitos records. Foi uma experiência incrível. Quando me formei fui jogar uma temporada na Finlândia, e foi ai que me apareceu uma grande oportunidade de cursar meu mestrado e ser treinadora. Na época o futebol feminino era ainda mais difícil do que é hoje, e por isso optei pelos estudos e a carreira de treinadora. Não me arrependo. Na UCLA fui muito feliz. Fomos o melhor time do país. Trabalhava com atletas de alto nível e amava cada minuto daquilo. Mas ainda havia algo dentro de mim que me incomodava. Ao assistir a Copa do Mundo feminina de 2015, o incomodo ficou maior ainda. Percebi então que tinha aposentado as luvas muito cedo… e que minha maior paixão ainda era viver o sonho do futebol como atleta, e não como treinadora. 

Foi a melhor decisão que tomei. Odiaria seguir minha vida sempre imaginando em como teria sido se tivesse voltado a jogar. 

Quero jogar até dizer chega, até meu corpo não aguentar mais… e depois disso, ainda tenho o resto da vida pra me dedicar à carreira como treinadora. Não largo o futebol por nada! :)

Raquel Nascimento Pergunta:6.Jogar futebol no Brasil sabemos que é bem difícil,na posição de goleira então...Nos conte um pouco dessa dificuldade de ser goleira.

Dizem que a posição mais injusta é o goleiro, considerado o vilão do futebol. O atacante pode estar fazendo um péssimo jogo, mas em um momento faz o gol da vitória e é só disso que vão lembrar. Já o goleiro é exatamente o oposto. O goleiro pode estar tendo uma partida brilhante, mas se falha, ja é massacrado. Então por esse lado ja é difícil ser goleiro… além disso, ainda tem a questão de geralmente num time, apenas um goleiro jogar, o que reduz significativamente as chances de voce estar em campo. O fato também de não termos muita oportunidade para treinamentos especializados na posição, gera uma dificuldade a mais para as goleiras do futebol feminino. Mas ninguém falou que seria fácil, né? Quem escolhe ser goleiro gosta de desafios, da pressão e de tudo o que significa ser goleiro. 

Raquel Nascimento Pergunta:7.Você já jogou profissionalmente na Finlândia pelo Seinajoen Minmiliiga,também jogou pelo Gyori Eto,Ferroviária e pelo Guarani.Fale um pouquinho sobre sua passagem por esses times.

No Guarani foi onde comecei a minha carreira. Passei 6 anos no clube, disputando diversos campeonatos, tanto de futebol quanto de futsal. Aquilo tudo era mais que um time, era uma familia. Vivi momentos de muita alegria, fiz muitas amizades. Foi uma experiência muito marcante. Não mudaria e nem trocaria por nada. 

A minha passagem pela Finlandia foi muito proveitosa. Convivi com pessoas muito do bem, me destaquei na liga e tive a oportunidade de conhecer um pouquinho do país. 

A minha passagem pela Ferroviária veio após muitos anos vivendo fora. Confesso que no começo foi difícil me acostumar com a realidade do futebol feminino no Brasil. A Ferroviária é um dos times mais renomados e respeitados do país, com tradição e uma história muito vitoriosa. Eles são um dos times que oferecem melhores condições para suas jogadoras,  e de fato, com a minha passagem por lá pude comprovar que a gestão fazia de tudo para que fossemos tratadas com profissionalismo. Porém, não se dá nem pra comprar a estrututa que existe nos Estados Unidos com as daqui do Brasil. Mas mesmo com todas essas dificuldades, fui muito feliz na minha passagem pela Ferroviária. Joguei ao lado de grandes jogadoras, trabalhei com excelentes profissionais e pude dar o meu melhor dentro de campo. 

A minha ultima experiência fora do Brasil foi na Hungria. A Hungria tem uma cultura muito diferente da nossa. As pessoas la são mais sérias, parece que não vivem com a mesma alegria do Brasileiro. No futebol o nível é bom. No meu time e nos que jogávamos contra, a maioria das jogadoras eram das seleções da Europa Central, como Hungria, Austria, Romênia, Eslováquia, etc. Consegui fazer uma boa temporada lá, levando pouquíssimos gol. 

Raquel Nascimento Pergunta:8.Começou a representar a Seleção Brasileira com quantos anos?

Minha primeira convocação para a Selecao Principal veio em 2009, com o treinador Kleiton Lima. Eu tinha 20 anos. 

Raquel Nascimento Pergunta:9.Você nota alguma diferença no tratamento dado às mulheres que jogam futebol nos Estados Unidos e nos países da Europa,por exemplo,em relação ao tratamento recebido por elas no Brasil ?

Claro que existe. No Estados Unidos, futebol é esporte pra todos. Até me atrevo em dizer que lá o futebol é praticado mais por meninas do que meninos. Não existe esse preconceito que vivenciamos aqui. Na Europa, depende muito de qual país. Ainda encontramos culturas muito machistas em alguns países Europeus, o que pode gera um pouco de preconceito e a presunçãde que o homem é melhor do que a mulher no futebol. 

Raquel Nascimento Pergunta:10.Qual mensagem você deixa para as goleiras que estão começando no futebol?

A mensagem mais importante é que não desistam dos seus sonhos. Se ser goleira é sua paixão, voce tem que correr atrás, com determinação e perseverança. Um conselho que dou, é que procurem treinamento especifico para goleiros, pois essa é uma posição muito especializada. Entendo que às vezes faltam recursos pra fazer uma escolinha, ou treinamento especifico de goleiros, mas hoje em dia, com o uso da internet, tudo ficou mais fácil. No YouTube mesmo podemos achar muitos videos educativos, ensinando técnicas básicas da posição sobre a poisção. 

                                        Vamos fazer um Ping-Pong

                            Família: Meu maior tesouro 

                            Deus: acima de tudo

                            Um ídolo: Iker Casillas 

                            Comida Preferida: Strogonoff de Carne da mama! 

                            Uma Frase: Faça tudo com amor e seja extraordinário em tudo o que fizer. 

                            Uma Música: 93 Million Miles - Jason Mraz

                            Sonho: Ganhar uma copa do mundo e uma medalha olímpica. 

                            O que sente em cada atuação: Gratidão por poder fazer o que amo.

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